Parte 3
Os registros necessários ao relacionamento causal e conexão lógica do claim
No decorrer do contrato são produzidos diversos registros. É necessário que a parte interessada produza um conjunto de registros (além dos registros contratuais) que sejam suficientes para a caracterização do claim. Dentre as formas mais comuns de registros, os autores acreditam que os seguintes são os que merecem maior atenção:
Relatório Diário de Projeto (Diário de Obras): Este documento é sem dúvida um dos mais vitais na formação do direito de pleitear por parte do contratado e um dos quais o contratante deve estar mais atento para defender-se dos claims. Assim, no RDO devem conter informações do site (natureza climática, informando se são oferecidas ou não condições de trabalho), efetivo, efetivo a disposição ou improdutivo, ocorrências diversas, alteração na seqüência executiva e tudo o mais que possa estar alterando o ambiente, os fatos e as circunstâncias nos quais a obra foi concebida.
Relatório de Progresso: É um documento emitido pelo contratado ao contratante no qual o mesmo descreve todos os trabalhos executados durante certo período de tempo (semanal ou mensal). Ele será útil para o mapeamento do real x executado e a cientificação ao contratante do andamento da obra e suas anormalidades.
Documentários Fotográficos: Registros fotográficos auxiliarão muito na descrição de interferências com o processo construtivo, atraso na liberação de frentes, chuvas, entre outros.
Correspondências: Constituem as cartas, e-mail, memorandos, atas de reunião e tudo o mais que foi utilizado para a documentação dos fatos decorridos no andamento do projeto.
Forma de apresentação do CLAIM
Muitos contratados prejudicam a credibilidade de seu claim provendo um documento com discurso prolixo, complicado, emocionalmente carregado atuando no foco do convencimento oratório e não no foco de uma demonstração racional à luz do contrato e das condições do negócio pactuado.
Antes porém de se proceder a apresentação é conveniente que o contratado tenha notificado por meio de registros, ou mesmo “preparado o espírito” do contratante para a recepção do claim.
Feito isso, é recomendável que o contratado utilize uma carta claim, com um texto em estilo narrativo e dissertativo no qual descreva o que ocorreu no contrato e as implicações, em termos de prazos e custos.
Esta apresentação, para facilitar a visualização do contratante (pois em certos casos o homem de decisão não é propriamente o administrador do contrato), deve incluir demonstrações gráficas, fotografias, esquemas e desenhos ilustrativos entre outros. Preferencialmente deve-se usar um estilo de apresentação artístico com o uso de cores e que torne a interpretação totalmente compreensível.
Exemplos são apresentados a seguir. O primeiro deles, diz respeito a incidências pluviométricas em determinada região do pais, acima das médias históricas.
O segundo, é um cronograma de barras, em estilo artístico, demonstrando a dilatação do prazo contratual em decorrência das chuvas descritas no item anterior.
Observa-se que além da dilatação do prazo contratual, ocorreu que esta dilatação foi para dentro do período chuvoso (em destaque). Observa-se que são dois contratos.
Verificar também que ocorreu a suspensão dos trabalhos (flag vermelho).
No caso em questão ilustrou-se com um flag verde o sinal de início das obras e com um flag vermelho a suspensão. O término das obras foi indicado com o flag amarelo.
A resolução do claim
A negociação e resolução do claim é, sem dúvida, um de seus processos mais complexos. Para tanto, e anteriormente para dirigir-se ao processo de negociação a parte deve estar preparada para fazer concessões, bem como no que pode ou não ceder.
Deve-se realizar uma análise do quão suportadas estão as hipóteses e quão justos estão seus custos. Deve-se também avaliar a possibilidade de realizar a “barganha” do claim por novos contratos ou negócios.
A parte deve-se considerar no Brasil, a cultura unilateral que ainda vigora em boa parte das empresas, onde, como herança da fase onde vigorou o “principio da obrigatoriedade”, contratantes desprezam os Claims. Nestas empresas persiste ainda um “preconceito” das contratantes em relação às empresas que apresentam seu Claim. Não raro, ocorrem ameaças ou mesmos retaliações a estas empresas.
Desta forma é imprescindível uma postura firme e clara com relação aos fatos ocorridos e ao posicionamento da contratante em relação aos mesmos.
O histórico mostra que, na maioria das vezes o desgaste só existe quando há má fé. Empresas que apresentam seus Claims e “rompem” este preconceito com um trabalho sério e fundamentado reequilibram seu contrato e mantém seu cliente.
Entretanto, estar preparado é fundamental. Se o nível maturidade do contratante não permitir a negociação, o caminho pode ser uma câmara de arbitragem ou mesmo um tribunal de justiça.
O gerenciamento de claims segundo o PMBOK – construction extension
Tão Grande é a Importância de claims nos EUA e na atividade de gerenciamento de projetos (O estado americano do Oregon possui um departamento destinado exclusivamente a analisar claims de construção) que o PMBOK dedica em seu construction extension um capítulo a claims. Ele se compõe de três processos básicos: Identificação do claim, quantificação do claim e resolução do claim.
Acesse a primeira parte do artigo através do link: Claims no Gerenciamento de Projetos – I Acesse a segunda parte do artigo através do link: Claims no Gerenciamento de Projetos – II
Geovane Mendes Martins geovane@hormigon.com.br Engenheiro Civil – FUMEC MBA | Gestão de Projetos – FGV
Geovane Martins é sócio da Hormigon Hect e possui mais de 20 anos de experiência no ramo de engenharia e administração de contratos, notadamente em processos de gerenciamento de projetos, gerenciamento de pessoas, e consultoria na elaboração de Claims. Atualmente provê trabalhos de consultoria em Gerenciamento de projetos e contratos para para a indústria de celulose, energia e mineração no Brasil e Argentina (contratantes), assim como consultoria na elaboração de claim’s para construtoras e montadoras. Atua também como assistente técnico em demandas no judiciário e em câmaras de arbitragem, apoiando escritórios de advocacia. No momento participa de causas que superam R$ 300 milhões.
João Antônio de Almeida Júnior
João Almeida é Engenheiro e Professor Universitário. Possui possui mais de 12 anos de experiência no ramo de engenharia civil notadamente em processos de aquisições, planejamento e orçamento em obras de construção, modelagem de processos de negócio, processos financeiros, serviços de financiamento habitacional e consultoria na elaboração de Claims.
Referências
PMI, Project Management Institute (Editor). Um Guia do Conjunto de Conhecimentos do Gerenciamento de Projetos – PMBOK (Project Management Body of Knowledge) Guide. PMI, 2004
PMI, Project Management Institute (Editor). Um Guia do Conjunto de Conhecimentos do Gerenciamento de Projetos – PMBOK (Project Management Body of Knowledge) – Construction Extension Guide. PMI, 2000.
CHEN, Yanping. Principles of Contracting for Project Management. University of Management & Technology Press, 2003
ARAÚJO, João Vieira de. Negociação e Solução de Conflitos. Fundação Getúlioi Vargas. Rio de Janeiro –RJ. 2006. 100p.
SILVA, Tácito Avelar e. Administração de Contratos. Ietec – Instituto de Educação Tecnológica. Belo Horizonte – 2002. 155 p.
JUNIOR, Otávio Luiz Rodrigues. Revisão Judicial dos Contratos – Autonomia da Vontade e Teoria da Imprevisão. Editora Atlas. São Paulo – 2002. 243 p.
MENDES, Murilo; Attuch, Leonardo. Quebra de Contrato – O Pesadelo dos Brasileiros. Editora Del Rey. Belo Horizonte – 2004. 368 p.
PAIVA, Alfredo de Almeida. Aspectos do Contrato de Empreitada. Editora Forense. Rio de Janeiro – 1997. 155 p.
SOUZA, Cláudio Luiz Gonçalves de. Roteiro Prático de Exportação e Importação. Editoria Líder. Belo Horizonte – 2003. 186p.
PEREIRA, Ivone Rotta. A tributação na história do Brasil. Editora Moderna. São Paulo – 1999. 112 p.
SPEZIALI, Paulo Roberto. Revisão Contratual. Editora Del Rey. Belo Horizonte – 2002. 209 p.
SILVA, José Pereira da. Gestão e Análise de Risco de Crédito. Editora Atlas. São Paulo – 1998. 388p.
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Parcerias na Administração Pública. Editora Atlas. São Paulo – 1999. 328 p.