O aquecimento da economia brasileira gera grandes investimentos no setor privado, com reflexos positivos para a indústria da construção. Não obstante, deve-se ter em conta alguns aspectos de modo que a expectativa com esses negócios não seja frustrada. Essa frustração, aliás, é hoje uma realidade, testemunhada por empresas que, trabalhando para o setor privado, observam seu patrimônio sendo dilacerado.
Não são necessários grandes esforços para enxergar as causas principais do empobrecimento de algumas empresas. Veja.
Desconhecimento do cliente
O mercado privado oferece oportunidades, mas para aproveitá-las é necessário, em primeiro lugar, conhecê-lo, e em especial a seu cliente. Nesse contexto vemos empresas que se aventuram fazendo obras para grandes contratantes sem ter pleno conhecimento das rotinas, dos procedimentos e do perfil de relacionamento a ser travado.
Devem-se ter critérios e cuidados para aproveitar as oportunidades que o mercado privado oferece. Fatores que interferem na produtividade, como políticas de SMS e qualidade, entre tantos outros, devem ser estudados, pois variam de empresa para empresa. Comparado ao setor público, esses fatores variam acentuadamente.
Mais grave, a falta de conhecimento da política do contratante afeta não somente a própria empresa, que acaba por ter prejuízo em seu contrato, mas também outras, as quais, conhecedoras das particularidades em contratos privados, acabam por perder a oportunidade de negócio por terem orçado corretamente.
Fast Tracking
Os projetos (assumindo a acepção da palavra inglesa “project”) necessitam dar aos seus investidores retorno cada vez mais rápido. Nesse sentido, ocorre desde o final da década de 90 no Brasil esse novo desenho de gestão dos projetos de construção, denominado “Fast Tracking”. Trata-se de um paralelismo das fases do projeto, onde a engenharia é desenvolvida de forma conjunta à aquisição de equipamentos e à construção.
Fato é que o “Fast Tracking” veio para ficar e temos que aprender a lidar com ele. Para que os efeitos adversos que são inerentes a este paralelismo sejam mitigados (não se eliminam) é necessário um gerenciamento integrado do projeto com bastante eficiência. Também é necessário entender que neste novo contexto universal de projetos, quaisquer fatores que impactem diretamente o planejamento resultam consequências em níveis superiores de imprevisibilidade, pois que estão inseridos em um contexto com fases predecessoras e sucessoras (que dependem de ações de outras empresas), sendo necessários ajustes nos parâmetros contratuais diante da visão limitada no momento em que eles são firmados. Os pleitos passam a fazer parte da rotina dos projetos de construção e daí a necessidade vital de tratar a Administração Contratual, em especial o controle de desvios dos projetos e a formalização desses desvios (através de registros), de forma profissional.
Mudança de Cultura
Diversas empresas ainda possuem a cultura de se fazer obras que se possuía na década de 70. É necessário mudar. A começar pelos empresários. Não se deve enxergar o lucro como heresia. Não se pode esconder a vontade de ganhar dinheiro. O negócio deve dar lucro. É com ele que o acionista poderá se manter atualizado, oferecer bons serviços aos clientes e continuar de portas abertas.
Faz-se necessário vestir a camisa da empresa os gestores, que muitas vezes pouco profissionais estão preocupados em atender interesses próprios. Existe ainda outra parcela que, mesmo fiel aos interesses da empresa, foram doutrinados a produzir mesmo diante de adversidades que não são suas e a servir ao cliente. Deve-se a eles esclarecer que a satisfação do cliente não pode ser a insatisfação do acionista.
A mudança de cultura é necessária também nas empresas contratantes que, vivendo esse novo cenário – no qual contrata-se sem um definição clara de escopo acabam por gerar atrasos e aceleração dos trabalhos (dois lados de uma mesma moeda), bem como a necessidade de realização de pleitos para recomposição contratual. A tendência, no entanto, dos contratantes com visão amadora de contratos (em alguns casos com visão aguçada, mas agindo com má fé) é a de negar pedidos.
É essencial, nesse cenário, possuir gestores capacitados, com conhecimento do contrato, da legislação pertinente, que defenda a posição da empresa, e que seja flexível a mudanças. Como disse Charles Darwin: “Não é o mais forte quem sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças”.
Geovane Mendes Martins geovane@hormigon.com.br Engenheiro Civil – FUMEC MBA | Gestão de Projetos – FGV
Geovane Martins é sócio diretor da Hormigon e possui mais de 20 anos de experiência no ramo de engenharia e administração de contratos, notadamente em gerenciamento de projetos e gerenciamento de pessoas. Atualmente provê trabalhos de consultoria em contratos para a indústria de celulose e mineração no Brasil e na Argentina, assim como consultoria na elaboração de claims para construtoras e montadoras, tendo atuado também como parecerista para processos na justiça comum e arbitragem.
Artigo publicado na revista SICEPOTMG Notícias, Ano 9, n° 43, set/out 2012